segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nuclear nos outros é refresco

Em protesto na embaixada, Greenpeace denuncia incoerência alemã, que baniu energia atômica mas mantém crédito para construir Angra 3.

Na porta da embaixada alemã, pedimos o fim do incentivo para nuclear no Brasil.
Ativistas do Greenpeace bateram à porta da embaixada alemã em Brasília na manhã de hoje para exigir coerência da chanceler Angela Merkel em sua política nuclear. Ela anunciou no final de maio que até 2022 não haverá mais energia atômica na Alemanha, mas não suspendeu em definitivo a antiga parceria com o Brasil para a construção da usina de Angra 3.
Na porta da embaixada, os ativistas exibiram um cartaz com a frase “Merkel, não dê dinheiro para nuclear no Brasil”, estampada com fotos de seguidores do Greenpeace nas redes sociais: as imagens acompanhavam uma frase de protesto contra a construção de Angra 3.Foram mais de 250 fotos recebidas em pouco mais de um mês de mobilização. Uma carta com o pedido de suspensão do financiamento foi protocolada na embaixada.


Veja o vídeo:

Angra 3 conta com 41,4% de capital internacional, ou cerca de R$ 3 bilhões, valor acordado entre o Brasil e a Alemanha, parceiros atômicos desde a década de 1970. O aporte vem de uma associação de bancos europeus, com garantia de empréstimo dada pela Hermes, agência estatal de crédito alemã. É o único atrativo para os bancos e para a empresa que fornecerá maquinário para a usina, a francesa Areva;
“Se o governo alemão entendeu que a energia nuclear deve ser banida do seu país, deveria manter a coerência em sua política externa e cancelar este crédito para o Brasil”, diz Pedro Torres, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace. “A garantia alemã dá uma falsa impressão de segurança ao negócio.” A Alemanha também ainda não se pronunciou sobre se pretende seguir exportando os equipamentos e a tecnologia que agora querem ver pelas costas – que equivale a manter empregos alemães à custa da segurança dos brasileiros. 


Caso o dinheiro de fora não venha, os custos totais da construção ficarão na mão do BNDES, que já anunciou que repassará a batata quente para os bolsos da Eletrobrás. De qualquer jeito, o contribuinte brasileiro é quem pagaria. O Greenpeace esteve na porta do BNDES no dia 25 de abril, com um pedido pelo fim deste financiamento pelo bem da população – pedido esse que foi negado.


O projeto de Angra 3 conta com tecnologia alemã dos anos 80, considerada obsoleta por sua própria criadora – tanto que, após a crise nuclear em Fukushima (Japão), a Alemanha desligou sete usinas desse período. As demais usinas serão desligadas até 2022 e os planos são de substituí-las por fontes renováveis.   


“Mais que a Alemanha, o Brasil tem todas as condições de crescer com energia limpa. Podemos ter uma matriz energética 100% renovável, abolindo de vez a nuclear do cardápio”, diz Pedro Torres. “O país deveria seguir o exemplo alemão e de outros países que repensaram seus programas nucleares, ao invés de apelar por incentivos financeiros para uma usina jurássica, de energia cara e insegura.”

Usina Nuclear Angra 3 coloca o Brasil na berlinda:

Após o acidente nuclear ocorrido no Japão, os países industrializados começaram uma corrida para desativarem as suas centrais nucleares. A Alemanha já anunciou ao mundo que a maioria de seus reatores nucleares deverá ser desligada no período de 10 anos.

Essa recente tragédia nuclear também reportou o mundo a outros acidentes nucleares de grande impacto, o ocorrido na Pensilvânia – EUA em 1979 e na usina de Chernobyl, Ucrânia, em 1986. E até hoje ainda há indícios da contaminação pela radiação, pois além das nuvens radioativas terem a capacidade de atingir grandes centros populacionais, o urânio fundido também poderá penetrar profundamente o solo e contaminar as águas do lençol freático.

O Brasil possui duas usinas nucleares em operação e outra em construção. Angra 1 começou a operar em 1984 e Angra 2, construída a partir do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha firmado em 1975, entrou em funcionamento em 1996. Angra 3 teve as suas obras paralisadas em 1986, mas foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC em 2010. As Licenças de Instalação do IBAMA e Construção Preliminar da CNEN já foram expedidas, e a sua conclusão está prevista para o ano de 2015.

A ativação de mais uma usina nuclear coloca o Brasil na contramão, ou melhor, na berlinda, deixando a sociedade em alerta. O Greenpeace já se manifestou, promovendo um protesto pacífico em frente ao prédio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E tal manifestação é mais que legítima.

Pois se a Alemanha está retrocedendo, por que não o Brasil que possui todas as condições naturais para extrair energia eólica, solar, biomassa e outras mais? Por que não investir mais em projetos simples como as pequenas hidroelétricas utilizadas pelas famílias no Vietnã para gerar eletricidade, ao invés de investir o dinheiro público na construção de uma terceira usina nuclear?
A sociedade brasileira aprovaria por unanimidade não só a paralisação das obras da usina de Angra 3, como também as desativações das usinas Angra 1 e Angra 2. Seria um custo que os brasileiros bancariam sorrindo. Basta ter vontade política, focando-se nas necessidades e nos interesses reais do país.

Com certeza teríamos uma variação bem considerada na relação custo/benefício. Pois não há de se ratear um custo pesado sobre milhões de pessoas em prol de beneficiar somente alguns. O sensato seria o rateio de benefícios em função da redução de um custo no longo prazo. Melhor dizendo, custo de oportunidade e não ganância.

BNDES financia a insegurança nuclear

Greenpeace simula acidente nuclear na sede do banco no Rio de Janeiro e cobra a suspensão do investimento em Angra III para garantir a segurança do país.
Greenpeace protesta no Palácio do Planalto contra os investimentos em energia nuclear no Brasil e pede a presidente Dilma que suspenda ações na área.





quinta-feira, 31 de março de 2011

OEA pede ao Brasil informações sobre Belo Monte!!!

A Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu ao Brasil informações sobre o licenciamento ambiental concedido para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA).
A solicitação, segundo a Agência Brasil, ocorreu após pedido de medida cautelar encaminhada por ONGs contrárias à obra à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA.
No documento, as ONGs pedem ajuda da OEA para suspender o licenciamento ambiental de Belo Monte. As organizações também solicitam a interrupção da obra e o respeito aos direitos dos moradores afetados pela construção.
Em resposta, a OEA pediu ao Brasil que fornecesse, em até dez dias, informações sobre o andamento da ação civil pública do Ministério Público Federal que solicita a suspensão imediata da licença parcial de instalação à empresa Norte Energia SA, encarregada da obra.
No documento enviado pela OEA ao governo brasileiro, a OEA diz que as ONGs alegam que a licença parcial dada à empresa não tem base legal e não cumpre requisitos definidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A OEA também pede que o governo justifique a concessão da licença e apresente os procedimentos de consulta prévia realizados com povos indígenas que poderão ser afetados pela usina.
Créditos: Lindon Gilson




Ação do Greenpeace contra a Usina de Belo Monte!


Vale a pena ver!
Ainda digo: Se algum dia, eu conseguir independência financeira, me afiliarei ao Greenpeace!
(:
Admirável, duma inteligência inexaurível!

Carta aberta de Dom Erwin Kräutler à Opinião Pública Nacional e Internacional



Venho mais uma vez manifestar-me publicamente em relação ao projeto do Governo Federal de construir a Usina Hidrelétrica Belo Monte cujas consequências irreversíveis atingirão especialmente os municípios paraenses de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e os povos indígenas da região.


Como Bispo do Xingu e presidente do Cimi, solicitei uma audiência com a Presidente Dilma Rousseff para apresentar-lhe, à viva voz, nossas preocupações, questionamentos e todos os motivos que corroboram nossa posição contra Belo Monte. Lamento profundamente não ter sido recebido.

Diferentemente do que foi solicitado, o Governo me propôs um encontro com o Ministro de Estado da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. No entanto, o Senhor Ministro declarou na última quarta-feira, 16 de março, em Brasília, diante de mais de uma centena de lideranças sociais e eclesiais, participantes de um Simpósio Sobre Mudanças Climáticas que "há no governo uma convicção firmada e fundada que tem que haver Belo Monte, que é possível, que é viável... Então, eu não vou dizer prá Dilma não fazer Belo Monte, porque eu acho que Belo Monte vai ter que ser construída”.

Esse posicionamento evidencia mais uma vez que ao Governo só interessa comunicar-nos as decisões tomadas, negando-nos qualquer diálogo aberto e substancial. Assim, uma reunião com o Ministro de Estado Gilberto Carvalho não faz nenhum sentido, razão pela qual resolvi declinar do convite.

Nestes últimos anos não medimos esforços para estabelecer um canal de diálogo com o Governo brasileiro acerca deste projeto. Infelizmente, constatamos que esse almejado diálogo foi inviabilizado já desde o início. As duas audiências realizadas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 19 de março e 22 de julho de 2009, não passaram de formalidades. Na segunda audiência, o ex-presidente nos prometeu que os representantes do setor energético, com brevidade, apresentariam uma resposta aos bem fundamentados questionamentos técnicos feitos à obra pelo Dr. Célio Bermann, professor do curso de pós-graduação em energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo. Essa resposta nunca foi dada, como também nunca foram levados em conta os argumentos técnicos contidos na Nota Pública do Painel de Especialistas, composto por 40 cientistas, pesquisadores e professores universitários.

Observamos, pelo contrário, na sequência a essas audiências, que técnicos do Ibama reclamaram estar sob pressão política para concluir com maior rapidez os seus pareceres e emitir a Licença Prévia para a construção da usina. Tais pressões políticas são de conhecimento público e motivaram, inclusive, a demissão de diversos diretores e presidentes do órgão ambiental oficial. Em seguida, foi concedida uma "Licença Específica", não prevista na legislação ambiental brasileira, para a instalação do canteiro de obras.

No dia 8 de fevereiro de 2011, povos indígenas, ribeirinhos, pequenos agricultores e representantes de diversas organizações da sociedade realizaram uma manifestação pública em frente ao Palácio do Planalto. Na ocasião, foi entregue um abaixo-assinado contrário à obra, contendo mais de 600 mil assinaturas. Embora houvessem solicitado uma audiência com bastante antecedência, não foram recebidos pela Presidente. Conseguiram apenas entregar ao ministro substituto da Secretaria Geral da Presidência, Rogério Sottili, uma carta em que apontaram uma série de argumentos para justificar o posicionamento contrário à obra. O ministro prometeu mais uma vez o diálogo e considerou a carta"um relato que prezo, talvez um dos mais importantes da minha relação política no Governo (...) vou levar este relato, esta carta, este manifesto de vocês, os reclamos de vocês...". Até o momento, nenhuma resposta!

As quatro audiências -realizadas em Altamira, Brasil Novo, Vitória do Xingu e Belém- não passaram de mero formalismo para chancelar decisões já tomadas pelo Governo e cumprir um protocolo. A maioria da população ameaçada não conseguiu se fazer presente. Pessoas contrárias à obra que conseguiram chegar aos locais das audiências não tiveram oportunidade real de participação e manifestação, devido ao descabido aparato bélico montado pela Polícia.

Até o presente momento, os índios não foram ouvidos. As "oitivas" indígenas não aconteceram. Algumas reuniões foram realizadas com o objetivo de informar os índios sobre a Usina. Os indígenas que fizeram constar em ata sua posição contrária à UHE Belo Monte foram tranquilizados por funcionários da Funai que as "oitivas" seriam realizadas posteriormente. Para surpresa de todos nós, as atas das reuniões informativas foram publicadas pelo Governo de maneira fraudulenta em um documento intitulado "Oitivas Indígenas". Esse fato foi denunciado pelos indígenas que participaram das reuniões. Com base nestas denúncias, peticionamos à Procuradoria Geral da República investigação e tomada de providências cabíveis.

A tese defendida pelo Sr. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de que as aldeias indígenas não serão afetadas pela UHE Belo Monte, por não serem inundadas, é mera tentativa de confundir a opinião pública. Ocorrerá justamente o contrário: os habitantes, tanto nas aldeias como na margem do rio, ficarão praticamente sem água, em decorrência da redução do volume hídrico. Ora, esses povos vivem da pesca e da agricultura familiar e utilizam o rio para se locomover. Como chegarão a Altamira para fazer compras ou levar doentes, quando um paredão de 1.620 metros de comprimento e de 93 metros de altura for erguido diante deles?

Julgo fundamental esclarecer que não há nenhum estudo sobre o impacto que sofrerão os municípios à jusante, Senador José Porfírio e Porto de Moz, como também sobre a qualidade da água do reservatório a ser formado. Qual será o futuro de Altamira, com uma população atual de 105 mil habitantes, ao ser transformada numa península margeada por um lago podre e morto? Os atingidos pela barragem de Tucuruí tiveram que abandonar a região por causa de inúmeras pragas de mosquitos e doenças endêmicas. Mas os tecnocratas e políticos que vivem na capital federal, simplesmente menosprezam a possibilidade de que o mesmo venha a acontecer em Altamira.

Alertamos a sociedade nacional e internacional que Belo Monte está sendo alicerçada na ilegalidade e na negação de diálogo com as populações atingidas, correndo o risco de ser construída sob o império da força armada, a exemplo do que vem ocorrendo com a Transposição das águas do rio São Francisco, no nordeste do país.

O Governo Federal, no caso da construção da UHE Belo Monte, será diretamente responsável pela desgraça que desabará sobre a região do Xingu e sobre toda a Amazônia.

Por fim, declaramos que nenhuma "condicionante” será capaz de justificar a UHE Belo Monte. Jamais aceitaremos esse projeto de morte. Continuaremos a apoiar a luta dos povos do Xingu contra a construção desse "monumento à insanidade”.

Brasília, 25 de março de 2011.

Dom Erwin Kräutler
Bispo do Xingu e Presidente do Cimi – Conselho Indigenista Missionário.